Exames diagnósticos em oncologia: presente e futuro

Exames diagnósticos em oncologia: presente e futuro

Abril de 2019

O câncer, segunda principal causa de morte – atrás apenas da doença cardiovascular –, matou 10 milhões de pessoas no mundo em 2018. As transições demográficas e epidemiológicas globais sinalizam um impacto cada vez maior na carga de câncer nas próximas décadas. No Brasil, dados do INCA (Instituto Nacional de Câncer) estimam a ocorrência de 600 mil novos casos de câncer neste ano de 2019. Estimativas que refletem o cenário de um país que possui, simultaneamente, perfil oncológico associado à urbanização e ao desenvolvimento (como nos casos de câncer de pulmão e cólon) e, também, a infecções (como o câncer de colo de útero e de fígado).

Não há dúvidas de que a estratégia mais eficaz para a redução do impacto do câncer é a prevenção. Na prevenção primária, o objetivo é impedir que o câncer se desenvolva evitando exposição a fatores de risco como tabagismo e bebidas alcóolicas e adotando um estilo de vida saudável que inclua uma alimentação adequada e o combate ao sedentarismo. Já na prevenção secundária, a meta é tratar doenças pré-malignas como, por exemplo, lesões causadas pelo vírus HPV ou pólipos nas paredes do intestino e até mesmo cânceres assintomáticos iniciais. Nesse contexto, utiliza-se com frequência métodos complementares ao diagnóstico clínico como a citologia para análise precoce de câncer de colo do útero e a mamografia para detecção precoce do câncer de mama, exame este que inclusive evidencia o método diagnóstico como ferramenta decisiva no combate à doença.

O câncer de mama é a primeira causa de morte por câncer entre as mulheres e sua incidência tem aumentado na maioria das regiões do mundo. Por outro lado, as taxas de mortalidade apresentam tendência de declínio desde o final da década de 1980, refletindo melhorias na detecção precoce por meio de rastreamento populacional com mamografia e mais eficiência nas intervenções terapêuticas.

No nosso país, o Ministério da Saúde recomenda, por meio da publicação “Diretrizes para a Detecção Precoce do Câncer de Mama no Brasil”, a identificação da doença em estágios iniciais estrategicamente pela mamografia periódica em mulheres acima de 50 anos de idade.

Além do diagnóstico oncológico precoce possibilitado por esse rastreamento populacional, exames diagnósticos são ferramentas indispensáveis para o mapeamento genético de populações de risco; para determinação da extensão do comprometimento tumoral no tecido afetado; para planejamento terapêutico; para avaliação objetiva da resposta terapêutica; e para análise de complicações dos tratamentos realizados. Para exemplificar com base no que estamos trabalhando hoje em dia, temos o uso da ressonância magnética cerebral e do perfil molecular tumoral para diagnóstico, classificação, planejamento e resposta aos tratamentos cirúrgicos, de radio e quimioterapia, para pacientes com câncer cerebral.

Com o desenvolvimento tecnológico dos equipamentos somado aos avanços no conhecimento da genética molecular do câncer e à resposta imunológica das células tumorais, o uso de modernos métodos de imagem, sequenciamento do DNA genético e novos biomarcadores de patologia no diagnóstico do câncer vem aumentando significativamente em todo o mundo.

Assim, em 2005, surgiu o termo “medicina de precisão” que designa um novo modelo de abordagem das doenças – incluindo a oncologia – para considerar as diferenças moleculares, epigenéticas e ambientais como base para o desenvolvimento de medidas terapêuticas mais efetivas.

No caso do câncer de pulmão, sabe-se que mutações específicas têm maior prevalência em algumas subpopulações, o que é determinante na escolha de medicamentos imunoterápicos para um tratamento com boa resposta e alta especificidade. Dessa forma, o uso concomitante de propriedades diagnósticas e terapêuticas de moléculas radiomarcadas com radionucleotideos (teranósticos) tem potencial para aprimorar o tratamento de neoplasias, especialmente no câncer de próstata.

Em tempos de debate sobre o aumento de custo na saúde mundial, é esperado que existam críticas ao uso excessivo – e as vezes desnecessário – de exames diagnósticos, fato comum em diversos países do mundo. O contraponto é a falha no uso de intervenções médicas gerada pelo baixo acesso ao sistema de saúde e pela pouca aderência às melhores práticas diagnósticas e terapêuticas.

No caso de exames diagnósticos, um exemplo marcante no Brasil está no elevado percentual – que chega a 70% – de pacientes com câncer de pulmão diagnosticados em estágio avançado pelo uso inadequado dos exames e pela falha no acesso ao sistema de saúde, o que leva a um baixo número de pacientes submetidos a tratamentos com fins curativos.

Apostar no diagnóstico precoce e reforçar a importância do desenvolvimento tecnológico em métodos diagnósticos são premissas para um tratamento oncológico mais eficiente e para melhoria na qualidade de vida dos pacientes. A batalha continua.

* Leonardo Vedolin é diretor de imagem da Dasa e diretor da Câmara de Radiologia e Diagnóstico por Imagem da Abramed

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