Com boas perspectivas para 2019, Brasil permanece em estado de atenção

Com boas perspectivas para 2019, Brasil permanece em estado de atenção

Especialistas falam sobre o que esperar do primeiro ano de Jair Bolsonaro como presidente e quais pontos merecem cautela

Janeiro de 2019

Depois de uma das eleições mais conturbadas da história, o Brasil se encontra em um período de transição governamental. Sai o presidente Michel Temer e entra o presidente eleito Jair Messias Bolsonaro. As expectativas sobre como serão os próximos anos – principalmente 2019 – são altas e ainda há muita incerteza sobre como a nova equipe conduzirá temas de fundamental importância para o desenvolvimento do país.

Segundo dados da Pulso Brasil, pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos entre os dias 3 e 14 de novembro de 2018 para observar o rumo do país, avaliar o presidente e o índice de confiança do consumidor, os indicadores começaram a se alterar logo após a definição das eleições presidenciais: a percepção de rumo certo atingiu 26%, um patamar consideravelmente acima dos obtidos nos últimos três meses (em outubro o indicador era de 8%). Além disso, 54% dos brasileiros têm expectativas positivas ou muito positivas em relação ao governo Bolsonaro.

Para Rubens Sardenberg, economista chefe da Febraban (Federação Brasileira de Bancos) que palestrou em evento promovido pela CBDL mês passado, um governo completamente novo tem seus prós e contras. “Termos muita gente nova trazendo novas ideias é uma vantagem, além do fato de que esse governo tem uma abordagem econômica mais liberal que acredito estar correta. Como desvantagens temos um governo inexperiente no relacionamento com o Congresso Nacional”, pontuou.

Essa mesma positividade é alavancada por Ricardo Amorim, economista, colunista da Revista IstoÉ e um dos debatedores do programa Manhattan Connection, da Globo News, que marcou presença no encontro anual da ABIMED (Associação Brasileira da Indústria de Alta Tecnologia de Produtos para Saúde). No evento, realizado em dezembro para tratar das expectativas de desenvolvimento da saúde brasileira no próximo ano, o especialista afirmou que “o fundo do poço ficou para trás e já temos claros sinais do processo de recuperação”.

Segundo ele, todos os grandes escândalos ocorridos ao longo dos últimos anos fazem com que as perspectivas sejam elevadas para 2019. “Em janeiro de 2017 tivemos a delação do Marcelo Odebrecht. Em maio passamos pela crise do Joesley Batista. Dois meses depois encaramos mais um fim do mundo com os R$51 milhões encontrados no apartamento do Geddel em Salvador (BA). Mesmo depois de tudo isso, o Brasil cresceu quase três vezes mais do que os economistas estavam projetando. E isso me leva a acreditar que para que a atuação política faça com que o país cresça menos é preciso ter algo ainda pior do que todos esses escândalos”, declarou.

Considerando-se otimista, Gonzalo Vecina, que é ex-presidente da Anvisa e esteve junto a Sardenberg no encontro da CBDL, reforça a união como estratégia para garantir resultados positivos. “Não sou eleitor de Jair Bolsonaro, mas ele foi eleito e é nosso presidente. E é para ele que vou trabalhar agora”, declarou enfatizando que ao longo de sua carreira trabalhou lado a lado com políticos de diferentes partidos em busca de soluções e melhorias para a saúde brasileira.

Passando a analisar o que precisa ser mudado dentro do sistema de saúde para que todos os brasileiros tenham acesso a um atendimento de qualidade, a união também se mostra imprescindível. E, neste caso, trata-se da união de todos os players para a consolidação de uma agenda positiva junto ao governo e aos órgãos reguladores. “Está escandalosamente errada a forma como fazemos nossos negócios. E somos nós que temos que achar a solução. Há coisas que o governo não será capaz de fazer pois não sabe como fazer. Nós, que estamos há anos nesse negócio, é que devemos elencar as propostas”, disse Vecina.

Essa ideia de trabalhar propostas de forma mais consolidada e unificada também é apoiada por Sardenberg. “No setor bancário, criamos um padrão de detalhar ao máximo as propostas que elaboramos. E isso tem funcionado. Todos os temas que abordamos apontamos os problemas e as soluções indicando, inclusive, quais as leis que precisam ser alteradas”, explicou.

Recuperação nacional – O otimismo apontado pelos especialistas consolida-se paralelamente a uma sensação de que é preciso seguir com firmeza nas batalhas do dia a dia. “O primeiro ano deste novo governo será bastante difícil para a sociedade e para o setor de saúde. Mas é importante saber que a melhor maneira de se defender das dificuldades que estão por vir não é saindo do jogo, mas sim jogando melhor. Quem sair, quando retornar terá perdido o rumo. E tenho certeza que o nosso país vai seguir no jogo, pois temos potencial e eu sou um otimista”, declarou Vecina enfatizando que otimista é o sujeito que trabalha pela solução e pessimista aquele que fala que não dará certo e nada faz para melhorar.

Para Amorim, essa cautela é necessária pois não há como ter garantias de como atuará o novo presidente e de como essa equipe vai se comportar quanto às reformas tão importantes para o desenvolvimento da nação.

Analisando a reforma da previdência, por exemplo, o que gera desconfiança são as declarações, segundo o economista. “Primeiramente, Eduardo Bolsonaro, filho do presidente eleito, declarou em palestra nos EUA que talvez não consigam aprovar a reforma da previdência, mas que farão o melhor possível. Na sequência, Onyx Lorenzoni disse que farão a reforma quando der. Posteriormente temos o presidente eleito afirmando que fatiará a reforma. O que me parece é que falta, ao braço político do governo, a compreensão do tamanho e da importância da reforma da previdência”, disse relembrando que a previdência é o maior problema das contas públicas, visto que com o envelhecimento populacional e a inversão da pirâmide etária os gastos não param de crescer.

Concordando com esse posicionamento, Sardenberg questiona se o governo vai, de fato, atacar essa questão. “Nosso orçamento tem 90% de gastos com a previdência, gasto este que cresce automaticamente. Temos um problema conjuntural de natureza estrutural. E é por isso que todo mundo está olhando para nosso presidente questionando se ele vai endereçar a reforma da previdência”, relatou reforçando uma onda positiva. “Eu, particularmente, estou otimista com relação ao que vai acontecer. Temos uma chance muito boa do governo seguir com a reforma, mesmo que não seja a reforma dos sonhos”, disse.

Cenário externo – Mesmo com tantos ajustes internos a serem feitos, o Brasil deve manter-se atento ao cenário externo para evitar que questões mundiais impactem negativamente o desenvolvimento.

Visualizando que os EUA estão prestes a encarar uma nova recessão, Amorim afirma que, na economia, todo processo de expansão gera desequilíbrios que, para serem corrigidos, carecem de uma desaceleração temporária. Com a taxa de desemprego mais baixa das últimas cinco décadas, os norte-americanos sentem dificuldade em contratar, pois há poucos profissionais disponíveis no mercado. Isso faz com que as empresas tenham de oferecer salários cada vez mais elevados para que esses profissionais aceitem propostas de mudanças de emprego.

Como reflexo, há aumento do custo de produção no país somado ao elevado poder de compra. Essa junção de fatores eleva os preços aumentando os índices de inflação. “Se a inflação sobe, junto com ela subirá também a taxa de juros”, explicou.

Acreditando que a nova recessão dos EUA deve chegar no máximo em 2020 e que a China também está desacelerando, o especialista prevê um impacto mundial. “Quando isso acontece a economia do mundo inteiro entra em recessão, o que significa que vamos vender menos para todo o restante do mundo”, pontuou enfatizando que toda essa cadeia econômica levará a uma alta do dólar fazendo com que os produtos importados custem mais caro gerando uma pressão inflacionária no Brasil e, posteriormente, juros mais altos. “É por isso que muito do que me preocupa hoje não está dentro do Brasil”, finalizou.

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